COVID-19 e o desempenho individual em equipes virtuais globais: o papel da autorregulação e das orientações culturais de valor individuais
Postado em: Gestão de Pessoas

Revista de Comportamento Organizacional
Autores: Schlaegel, Gunkel e Taras
Ano de publicação: 2023


Sobre o artigo

Os autores deste artigo estudaram como a pandemia de COVID-19 afetou o desempenho de indivíduos que trabalham em equipes virtuais globais (EVGs), ou seja, grupos de pessoas que estão em diferentes países e usam tecnologias de comunicação e informação para realizar um projeto em conjunto.

Referencial teórico

Os autores usaram duas teorias para explicar o mecanismo e o processo que influenciam o desempenho dos indivíduos em EVGs durante a pandemia: a teoria da conservação de recursos (COR) e a teoria da autorregulação.

A teoria da COR diz que as pessoas buscam adquirir, manter e proteger seus recursos pessoais, como energia, saúde, dinheiro, tempo, conhecimento e relacionamentos.

Quando esses recursos são ameaçados ou perdidos por causa de um evento estressante, como a pandemia, as pessoas podem sofrer consequências negativas, como ansiedade, esgotamento e baixo desempenho.

A teoria da autorregulação diz que as pessoas têm a capacidade de controlar seus pensamentos e comportamentos para atingir suas metas.

A autorregulação envolve três processos: estabelecer padrões de desempenho, monitorar o progresso em relação aos padrões e ajustar as ações para corrigir possíveis discrepâncias.

Metodologia da pesquisa

Os autores realizaram uma pesquisa com 2727 indivíduos de 31 países que participaram de um projeto internacional de consultoria empresarial durante o início da pandemia.

Eles mediram o desempenho dos indivíduos em EVGs usando uma escala de avaliação de 10 pontos feita pelos clientes do projeto.

Eles também mediram a severidade local da pandemia usando o número de casos confirmados e mortes por COVID-19 por milhão de habitantes em cada país.

Além disso, eles mediram a autorregulação dos indivíduos usando uma escala de 10 itens que avalia o grau de planejamento, organização, monitoramento e controle das próprias atividades.

Por fim, eles mediram três orientações culturais individuais usando uma escala de 18 itens que avalia o quanto as pessoas valorizam a evitação da incerteza, o coletivismo e a orientação de longo prazo.

Descobertas do artigo

Os autores encontraram que:

  • A severidade local da pandemia teve um efeito negativo no desempenho dos indivíduos em EVGs. Isso significa que quanto mais casos e mortes por COVID-19 havia no país do indivíduo, menor era seu desempenho no projeto.
  • A autorregulação funcionou como um mecanismo de enfrentamento que reduziu o efeito negativo da pandemia no desempenho. Isso significa que quanto mais os indivíduos planejavam, organizavam, monitoravam e controlavam suas atividades, melhor eles se saíam no projeto, mesmo em situações de alto estresse.
  • A evitação da incerteza e a orientação de longo prazo foram positivamente associadas à autorregulação, que mediou a relação entre essas orientações culturais e a relação entre a pandemia e o desempenho. Isso significa que quanto mais os indivíduos preferiam evitar situações ambíguas e se preparar para o futuro, mais eles se autorregulavam e melhor eles se saíam no projeto.
  • O coletivismo não teve um efeito significativo na autorregulação nem na relação entre a pandemia e o desempenho.

Limitações do estudo

Os autores reconheceram algumas limitações do seu estudo, como:

  • A amostra foi composta por estudantes universitários que participaram de um projeto específico, o que pode limitar a generalização dos resultados para outros contextos e populações.
  • A medida de desempenho foi baseada na avaliação dos clientes, que pode ter sido influenciada por fatores subjetivos e não capturar todos os aspectos do desempenho dos indivíduos em EVGs.
  • A medida de severidade da pandemia foi baseada em dados oficiais, que podem não refletir a realidade de cada país ou região, nem a percepção dos indivíduos sobre o risco da pandemia.
  • O estudo foi realizado em um período específico da pandemia, que pode ter tido características diferentes de outros períodos em termos de intensidade, duração e impacto.

Conclusões do artigo

Os autores concluíram que seu estudo contribuiu para a literatura sobre o desempenho dos indivíduos em EVGs em situações de crise, como a pandemia de COVID-19.

Eles mostraram que a autorregulação é uma habilidade importante para lidar com o estresse ambiental e manter o desempenho em EVGs.

Eles também mostraram que algumas orientações culturais individuais podem explicar diferentes níveis de autorregulação e moderar o efeito da pandemia no desempenho.

Eles sugeriram que os gestores de EVGs devem considerar esses fatores ao selecionar, treinar e apoiar os membros das equipes virtuais globais.

Na prática

Esses resultados podem ser úteis para os profissionais de negócios que trabalham ou gerenciam EVGs, especialmente em tempos de crise como a pandemia. Algumas dicas práticas são:

  • Avaliar o nível de autorregulação dos membros da EVG e oferecer apoio e recursos para aqueles que têm dificuldade em lidar com o estresse e as distrações causadas pela pandemia.
  • Considerar as diferenças culturais entre os membros da EVG e adaptar as formas de comunicação e coordenação para respeitar e aproveitar a diversidade.
  • Fomentar uma cultura de confiança, colaboração e aprendizagem contínua na EVG, incentivando o compartilhamento de informações, feedbacks e ideias.
  • Estabelecer metas claras, realistas e desafiadoras para a EVG, bem como mecanismos de monitoramento e avaliação do desempenho individual e coletivo.
  • Reconhecer e recompensar os esforços e as conquistas dos membros da EVG, celebrando os sucessos e aprendendo com os fracassos.


Leia o artigo completo aqui.

Referência APA: Schlaegel, C., Gunkel, M., & Taras, V. (2023). COVID-19 e o desempenho individual em equipes virtuais globais: o papel da autorregulação e das orientações culturais de valor individuais. Journal of Organizational Behavior, 44(1), 102-131. https://doi.org/10.1002/job.2671