Autoritarismo versus participação nas decisões de inovação
Postado em: Inovação

Technovation
Autores: Sáenz-Royo, Lozano-Rojo.
Ano de publicação: 2023


Sobre o artigo

O artigo tenta responder a uma pergunta muito importante: por que alguns projetos de inovação fracassam?

Eles analisam duas possíveis explicações: uma é que o problema está na implementação do projeto, ou seja, na forma como ele é colocado em prática; e outra é que o problema está na decisão de adotar o projeto, ou seja, na escolha de qual projeto seguir em frente.

Eles também propõem uma terceira explicação: o problema está na racionalidade limitada dos indivíduos que avaliam os projetos de inovação, ou seja, na capacidade de processar as informações disponíveis.

Além disso, eles comparam o desempenho organizacional de dois mecanismos de decisão: um é a Decisão Coletiva, que é um mecanismo participativo em que todos os envolvidos no projeto têm que concordar em adotá-lo; e outro é a Autoridade, que é um mecanismo centralizado em que uma pessoa ou grupo decide sozinho se adota ou não o projeto.

Referencial teórico

O artigo se baseia em vários conceitos e teorias da literatura sobre gestão da inovação, como:

  • Resistência à inovação: é a tendência de rejeitar ou evitar mudanças e novidades, por medo ou desconforto.
  • Influência social: é a forma como as opiniões e comportamentos das pessoas são afetados pelas opiniões e comportamentos dos outros.
  • Erro de comissão: é aceitar um projeto que um decisor racional e ilimitado rejeitaria.
  • Erro de omissão: é rejeitar um projeto que um decisor racional e ilimitado aceitaria.
  • Processo de adoção de tecnologia: é a sequência de etapas que uma organização segue para avaliar e implementar uma nova tecnologia.

Metodologia da pesquisa

O artigo usa uma metodologia baseada em simulações computacionais para comparar os dois mecanismos de decisão (Decisão Coletiva e Autoridade) em um processo dinâmico de adoção de tecnologia.

Os autores criaram um modelo matemático que representa uma organização composta por vários agentes (indivíduos ou grupos) que têm que decidir se adotam ou não uma série de projetos de inovação gerados aleatoriamente. Cada projeto tem um valor esperado positivo, mas também tem uma probabilidade positiva de fracassar (risco).

Os agentes têm racionalidade limitada, ou seja, eles não conseguem avaliar perfeitamente os projetos e podem cometer erros de comissão ou omissão. Os agentes também podem ser influenciados socialmente pelos outros agentes, dependendo do mecanismo de decisão.

Os autores realizaram várias simulações com diferentes parâmetros e cenários para analisar os resultados dos dois mecanismos de decisão em termos de desempenho organizacional (medido pela soma dos valores dos projetos adotados), taxa de fracasso (medida pela proporção dos projetos adotados que fracassaram), taxa de rejeição (medida pela proporção dos projetos rejeitados) e taxa de aceitação (medida pela proporção dos projetos aceitos).

Descobertas do artigo

O artigo apresenta várias descobertas interessantes sobre os efeitos dos dois mecanismos de decisão no processo de adoção de tecnologia. Algumas delas são:

  • A Autoridade produz mais erros de comissão e menos erros de omissão do que a Decisão Coletiva, ou seja, a Autoridade aceita mais projetos que deveria rejeitar e rejeita menos projetos que deveria aceitar.
  • No curto prazo, os erros de omissão dominam e a Autoridade é preferível à Decisão Coletiva, pois ela permite adotar mais projetos e obter um maior desempenho organizacional.
  • No médio e longo prazo, os erros de comissão dominam e a Decisão Coletiva é preferível à Autoridade, pois ela evita adotar projetos que fracassam e mantém um desempenho organizacional mais estável.
  • A influência social na Decisão Coletiva reduz os erros de omissão, mas aumenta os erros de comissão, ou seja, ela faz com que os agentes concordem mais entre si, mas também aceitem mais projetos ruins.
  • A Decisão Coletiva sem influência social apresenta uma maior resistência à inovação, pois ela rejeita mais projetos e aceita menos projetos do que a Decisão Coletiva com influência social ou a Autoridade.

Limitações do estudo

O artigo também reconhece algumas limitações do seu estudo, como:

  • O modelo matemático usado nas simulações é simplificado e não capta todas as complexidades e nuances da realidade organizacional.
  • Os parâmetros e cenários usados nas simulações são baseados em suposições e estimativas que podem não refletir as condições reais de diferentes organizações e setores.
  • Os resultados das simulações podem variar dependendo dos valores iniciais e das distribuições de probabilidade usadas para gerar os projetos de inovação.
  • O artigo se concentra em comparar apenas dois mecanismos de decisão extremos (Decisão Coletiva e Autoridade), mas existem outros mecanismos possíveis que podem combinar elementos de ambos ou ter características diferentes.

Conclusões do artigo

O artigo conclui que não há um mecanismo de decisão ótimo para todas as situações, mas que cada um tem vantagens e desvantagens dependendo do contexto e do horizonte temporal.

O artigo sugere que as organizações devem ser flexíveis e adaptáveis para escolher o mecanismo de decisão mais adequado para cada projeto de inovação, levando em conta os fatores como o grau de incerteza, o nível de participação, a influência social e a resistência à inovação.

O artigo também contribui para o avanço do conhecimento sobre a gestão da inovação, ao incorporar a racionalidade limitada dos indivíduos e a dinâmica dos processos de adoção de tecnologia na análise dos mecanismos de decisão.

Na prática

O artigo dos autores Sáenz-Royo e Lozano-Rojo analisa como dois mecanismos de decisão diferentes podem afetar o sucesso ou o fracasso dos projetos de inovação nas organizações. Eles comparam a decisão coletiva, que é um processo participativo onde todos os envolvidos devem concordar com a adoção de uma inovação, e a decisão autoritária, que é um processo centralizado onde uma autoridade decide se adota ou não uma inovação.

Mas como profissionais de negócios podem usar os resultados desse artigo em suas atividades?

Aqui vão algumas dicas:

  • Reconheça que não existe um mecanismo de decisão perfeito para todos os casos. Dependendo do tipo de inovação, do contexto e do objetivo, pode ser mais adequado usar uma decisão coletiva ou uma decisão autoritária. Por exemplo, se a inovação é muito complexa ou arriscada, pode ser melhor envolver mais pessoas na avaliação e na implementação do projeto. Se a inovação é simples ou urgente, pode ser melhor delegar a decisão para uma pessoa com mais experiência ou autoridade.
  • Avalie os custos e benefícios de cada mecanismo de decisão. A decisão coletiva pode trazer mais comprometimento e motivação dos participantes, mas também pode demandar mais tempo e recursos para alcançar um consenso. A decisão autoritária pode trazer mais agilidade e eficiência na execução do projeto, mas também pode gerar mais resistência e insatisfação dos excluídos.
  • Evite os extremos de autoritarismo e participação. Um excesso de autoritarismo pode levar a decisões arbitrárias e imprudentes, que podem comprometer o sucesso do projeto e a reputação da organização. Um excesso de participação pode levar a decisões indecisas e conservadoras, que podem impedir o aproveitamento das oportunidades e a adaptação às mudanças.
  • Busque um equilíbrio entre os dois mecanismos de decisão. Uma forma de fazer isso é combinar as vantagens de cada um em diferentes etapas do processo de inovação. Por exemplo, pode-se usar uma decisão coletiva para gerar e selecionar ideias de inovação, e uma decisão autoritária para implementar e avaliar o projeto escolhido. Ou pode-se usar uma decisão autoritária para definir os objetivos e os critérios de inovação, e uma decisão coletiva para propor e testar as soluções possíveis.
  • Seja crítico e reflexivo sobre as suas decisões de inovação. Não se deixe levar pelo entusiasmo ou pelo medo de inovar. Procure analisar os prós e contras de cada projeto de inovação, considerando os aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais. Aprenda com os seus erros e acertos, e busque melhorar continuamente o seu processo de decisão.


Leia o artigo completo aqui.

Sáenz-Royo, C., & Lozano-Rojo, A. (2023). Autoritarismo versus participação nas decisões de inovação. Technovation, 124, 102741. https://doi.org/10.1016/j.technovation.2023.102741